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Imagem: dreams time |
“Um sábio passeava pelo parque, quando um homem aproximou-se e disse:
- Hoje pela manhã meu filho me pediu dinheiro para comprar algo que custa caro. Devo atendê-lo, mestre?
- Se não for uma situação de emergência, aguarde uma semana antes de comprar o que ele pediu, sem garantir se vai ou não fazê-lo.
- Mas se tenho condições de atendê-lo agora, por que esperar?
- Fará grande diferença, respondeu o mestre. As pessoas só dão o real valor a algo quando têm a oportunidade de duvidar se irão ou não consegui-lo, ou se poderão ou não perdê-lo”.
Apesar de a educação financeira ser o melhor caminho para o sucesso financeiro, poucos pais se lembram disso ou são capazes de educar seus filhos a lidar com dinheiro, deixando um grande vazio na formação deles. Não vou por em discussão a maneira como cada um deve educar filhos. Quero apenas reforçar a importância de inserir no contexto esse importante assunto, desde a infância. Uma boa maneira de evitar que as crianças tenham dificuldades no futuro para lidar com a falta de dinheiro, seria ensiná-los a entender esse assunto, desde pequenos. Mas há uma alternativa melhor. A melhor coisa a fazer, seria evitar que eles tenham esse tipo de dificuldade, ensinando-os a economizar e a poupar desde a infância. Melhor do que saber lidar com falta de dinheiro é aprender a evitar ficar sem dinheiro.
É com essa visão que apresento este artigo. Quebrar o tabu de falar sobre finanças é um importante passo para criar uma geração melhor preparada para lidar com esse tema. Entre muitos livros que abordam esse assunto, existe uma série famosa que diferencia o tipo de educação passada por Pais Ricos e Pais Pobre a seus filhos, a qual apresenta abordagens interessantes. Independente da visão defendida pelos autores – a dos pais ricos, obviamente, é de se destacar a importância de ponderar as duas visões. É um interessante alerta para as decisões financeiras – e as decisões pessoais por detrás delas. Deixando de lado aquela mania maniqueísta de americanos, de classificar pessoas como vencedores ou perdedores, é válida a abordagem que valoriza o ensinamento de pais para filhos. É no ambiente familiar que deve ser despertado o interesse pelos assuntos financeiros. A falta de discussão em família pode deixar uma lacuna na educação dos filhos. Até porque, infelizmente, a maioria das escolas também não ensina a lidar com esse assunto, apesar de fazer parte do nosso cotidiano durante toda nossa vida.
Muitas pessoas adotam modelos semelhantes aos observados em casa. Os padrões familiares tendem a se repetir. Crenças monetárias são absorvidas por “osmose”, pela observação dos exemplos domésticos, de maneira mais forte do que eventuais conselhos passados de pais para filhos. Deixar um patrimônio imobiliário ou financeiro para os filhos não vai garantira tranqüilidade financeira deles, a menos que você também deixe como legado uma sólida educação financeira. Aliás, arrisco-me a dizer que o segundo fator é até mais importante do que o primeiro.
“[...] Conselhos de pais sobre dinheiro, geralmente bem-intencionados, são as informações mais influentes que recebemos acerca do assunto. Para acriança que fomos, não se tratou apenas da opinião de seres humanos falíveis quanto à realidade do mundo. Acreditamos nas mensagens daquelas conversas francas com mamãe e papai mais piamente do que se nos tivesse sido entregues por Deus em tábuas de pedra.[...]Dra.Victoria Felton-Collins.
Há muitos autores, como o Dr.Axel Capriles, que afirmam ser já na infância que as crianças percebem a relação do dinheiro com o nosso cotidiano. Portanto, não há dúvidas que ser preparado desde a infância para lidar com o dinheiro – elemento onipresente em nossa vida, viabilizará uma melhor relação como dinheiro na vida adulta.
“[...] As investigações empíricas sobre a gênese e o conceito do desenvolvimento do dinheiro para crianças, apontam que a noção mais primária da economia infantil é a imagem do dinheiro como símbolo da relação, vinculado à obtenção do prazer e a satisfação das necessidades e desejos [...] conseguem compreender a utilidade do dinheiro na compra de doces e chocolates”.[...] Axel Capriles
Não se sabe ao certo o motivo de judeus e árabes aparentemente terem mais sucesso financeiro do que pessoas de outras origens. O certo é que, apesar das grandes diferenças, ambos compartilham de comportamentos comuns às pessoas que sabem lidar com dinheiro. O fator cultural é fundamental nesse processo. Ainda que as crianças não recebam orientação formal a respeito na escola, com certeza são influenciadas por um ambiente familiar e comunitário que cultua tradições milenares de respeito e apreço ao “massari” (dinheiro, em árabe). Talvez essa seja a diferença. Aproveite os ensinamentos milenares. Crie em casa um ambiente favorávelà cultura financeira. É a melhor escola de finanças que seus filhospodem ter.
Considero positivas algumas experiências vividas por pré-adolescentes na busca de dinheiro extra. Iniciativas que ainda hoje são vistas, principalmente no interior, onde crianças montam postos de venda ou troca de revistas usadas, figurinhas, limonada, doces, serviços de jardinagem, artesanato e outras tantas que a mente juvenil desenvolve. Mesmo como brincadeira, são boas oportunidades parao amadurecimento financeiro. Minha sugestão seria apoiar essas experiências.
Alguns amigos e clientes com os quais abordei esse assunto, levantaram questionamentos sobre a forma de abordagem e o que se deveria esperar ao tratar o tema finanças com crianças e adolescentes. Procurei reunir e agrupar características observadas que podem contribuir com a formação de uma geração mais consciente e mais madura financeiramente, em contra-ponto ao consumismo desenfreado percebido em certos grupos.
Responsabilidade – Ao passar princípios de responsabilidade aos filhos, deve-se aproveitar para ensinar também sobre a responsabilidade de uso do dinheiro:
» Não se deve gastar tudo que se ganha.
» Não se deve assumir compromissos financeiros que não se possa cumprir.
» Dinheiro se guarda em lugar seguro.
» Primeiro se garantem as receitas, para depois realizar as despesas.
» Quem não tem reserva financeira, sempre paga mais caro quando precisa de dinheiro.
» Quem não sabe quanto gasta, sempre gasta mais do que precisa.
Independência – Ajude seus filhos a criar independência financeira. Estabeleça uma quantia fixa por mês ou semana (mesada) que seja suficiente e razoável para as necessidades deles. Faça com que se adaptem a esse valor. Até os 14 anos, é melhor pagar a mesada com intervalos menores (semanal ou quinzenal). A partir dessa idade, aumente o intervalo até coincidir com sua fonte de renda, preferentemente mensal, com dia fixo. A partir de uma certa idade, peça para que paguem pessoalmente as próprias despesas, mesmo que seja com seu dinheiro (academia, curso de inglês, mensalidades, etc.).
Estimule-os a controlar algumas contas domésticas. Abra uma conta de poupança em nome deles. A partir dos 16 anos, ajude-os a abrir também uma conta corrente.
Liderança - Para que seus filhos sejam preparados para ser bons chefes de família (homens ou mulheres), permita que participem das discussões sobre as finanças da família. Não espere grandes contribuições. Tampouco é necessário que eles conheçam todos detalhes. Faça pelo menos que fiquem informados sobre a situação financeira da família, e como se lida com esses assuntos no dia-a-dia, especialmente nos momentos de aperto. Isso pode ajudar a enfrentar eventuais momentos de crise.
Lembre-se de que o exemplo é o melhor ensinamento. Os filhos têm tendência de se espelhar nos pais. Dê bons exemplos de gestão financeira familiar e permita que compartilhem com você. Talvez seja a melhor oportunidade da vida deles para aprender a lidar com dinheiro. Deixe que aprendam também com eventuais erros. A pior crise é aquela que não deixa ensinamentos.
Adaptação - Para que aprendam a se adaptar mais facilmente à vida, ajude-os aperceber mudanças nas condições financeiras da família, o mais rápido possível. Não esconda o jogo, principalmente se a mudança for para pior. Quanto mais tarde todos se adaptarem a um novo padrão, piores serão as conseqüências. A tempestividade dos ajustes pode evitar desequilíbrios entre receitas e despesas.
Poupança – Para ensinar a poupar, dê exemplo e motivação. Evite comprar tudo que pedem, ainda que você possa. Motive-os a fazer escolhas. Faça com que elejam prioridades. Facilite para que juntem as próprias economias. Comece pelos cofrinhos e valorize cada centavo poupado. Procure estabelecer metas e contribua para que os objetivos sejam alcançados, sempre com pequenas doses de esforço. Se for possível, faça depósitos de reforço quando alguma meta for atingida.
Adversidades – Para ensinar crianças a lidar com as adversidades financeiras, aproveite para fazê-lo quando você tiver opção. Dizer não às vezes é difícil, mas em se tratando de dinheiro, é necessário e pode ser muito útil. Pais que satisfazem todos os desejos de consumo dos filhos acabam gastando muito. Às vezes mais do que podem. Se essa prática se prolongar, as reservas podem se consumir e o “não” deixará deser uma opção, será uma necessidade. É mais fácil administrar as negativas e concessões enquanto se pode, do que em situações de escassez.
Habilidade - Para que seus filhos desenvolvam habilidades negociais, dê-lhes oportunidades e estímulos. Negociação é uma arte que se desenvolve desde pequeno. Lembre-se de que na vida estamos freqüentemente negociando.
Ética –A relação das pessoas com o dinheiro é um ótimo parâmetro para aferição da ética. De acordo com a Dra.Victoria Felton-Collins, por volta dos dez a doze anos, o ser humano já adota as posturas e valores básicos em relação ao dinheiro. Sabemos que essa fase é das mais importantes para a formação da personalidade. Sendo assim, a educação financeira pode ser uma excelente oportunidade para tratar esse assunto e incutir nas crianças valores éticos e morais.
Dica
É comum ouvir que a educação de berço é a mais importante. Se isso realmente é verdade, vamos potencializar essa oportunidade. Introduzir Educação Financeira na família pode não garantir riqueza ou fortuna, mas certamente vai contribuir para evitar apertos e desacertos financeiros no futuro para a nova geração.
Autor: Álvaro Modernell