domingo, 3 de outubro de 2010

Lição de Cidadania e Ética aos Filhos

Imagem: dreamstime.com

Aproveito o momento e deixo uma reflexão sobre como andamos transmitindo lições de cidadania às crianças.

Todas as questões que envolvem desde a preservação do meio ambiente, a miséria no mundo, aprender a conviver com os diferentes,  e também a questão das políticas públicas deveriam ser abordadas desde sempre na vida das crianças. Cada coisa em seu tempo, obviamente.

Parece loucura conversar sobre isso com as crianças e jovens, mas princípios de ética e cidadania caem bem em qualquer tempo do crescimento das crianças e jovens. Aliás, dê a oportunidade de uma conversa breve e você se surpreenderá, já que eles costumam usar o seu próprio vocabulário e a adotar os modelos vindos de casa.

Sei disso e por isso compartilho a experiência, porque quando abordamos a questão dos impostos e a Previdência Pública no Brasil durante as aulas de educação financeira, ouço todo o tipo de coisa e eles são realmente muito bons nisso. Não conversamos sobre política, porque não é esta a intenção, mas é inevitável que eles façam comentários, já que são seres que veem, ouvem e pensam.

Se cada pessoa do planeta tivesse o mínimo de consciência e acessasse sua própria e outras histórias e comportamentos naturais, poderia passar ensinamentos sobre ética e cidadania aos filhos simplesmente mostrando estas histórias de forma natural. Evitaríamos o desperdicício de um monte de coisas.

Às vezes, enquanto educamos nossos filhos, acreditamos que se já ensinamos alguns comportamentos éticos e de cidadania aos nossos filhos dentro de nossa própria casa também acreditamos que eles já tenham entendido a lição para aplicar isso do lado de fora, mas nem sempre é assim.

Um exemplo quase ridículo (não dá para acreditar que ainda exista quem aja dessa forma), mas revoltante, é quando nos deparamos com um carro a nossa frente e vemos o motorista ou passageiro abrindo o vidro e simplesmente mandando sacos de papel com qualquer resto de coisa dentro ( normalmente chamamos isso de lixo) para o lado de fora. 

Se fossem pessoas conscienciosas entenderiam que este tipo de comportamento, além de ser perigoso a quem está logo atrás, entope bueiros e que restos de comida atraem baratas e ratos (há uma média de 7 ratos/habitante em São Paulo !!!) e, por conseguinte, prolifera doenças.
Fico imaginando como deve ser a casa de uma pessoa que age desta forma...
Ou ainda aquele motorista que ao ver um outro veículo dando seta para entrar (embora andem economizando até na seta), ao invés de permitir que o outro entre ele acelera para passar à frente do carro que está tentando entrar.
O que é isso? GP de F1 ?

Nas escolas, encontramos lixo (papel, chicletes, sacos de salgadinho, caixinha de suco vazia) caídos no chão da sala de aula, sob a carteira.
Será que é isso que ensinamos aos nossos filhos em casa ou será que não reforçamos o ensinamento o suficiente a ponto de que eles compreendam que a questão de cidadania deve ser adotada não só dentro, mas fora de casa também ?

Vou lhe chamar a atenção para um caso bem comum que vem acontecendo entre os jovens ( e não estou nem falando sobre levar armas para a escola...Glup!): eles dizem que perderam o celular. Será que perderam mesmo ou deram cabo do velho porque estão querendo um modelo novo ?

Quer mais uma?

" Eu posso me atrasar na entrada da aula porque aqui não é a Inglaterra."

Por que é que tem que ser assim?

Se estão crescendo envoltos em crenças de sobreposição do TER ao invés do SER (nem que para isto seja necessário mentir aos pais), em crenças negativas sobre a possibilidade de mudar alguma coisa ou fazer a diferença é porque estão descrentes dos valores reais de vida e descrentes sobre a posição deles enquanto  cidadãos capazes de mudar a história e fazer diferente daquilo que não aceitam como uma verdade.

Devemos ser e estar atentos com a educação de nossos filhos em todos os aspectos. Devemos nos preocupar, sim, com o dever de casa, ver agendas, ajudar com os trabalhos escolares, oferecer suporte e conversar com a escola quando vemos algo em desalinho com nossos princípios.

Já fomos jovens e sabemos como as coisas são e como pais, às vezes somos tachados de "chatos", mas se não formos nós a nos preocuparmos com nossos filhos e o futuro deles, sobre o que pensam, o que estão fazendo, aprendendo, quem são os amigos, onde estão, deixaremos isto para quem? Para a escola somente ? Para a babá ou funcionária da casa ou o motorista da família ? Para a família do amigo ?

As mudanças das coisas que queremos ver só acontecem se começarmos a falar sobre elas de forma mais clara ao invés de somente criticarmos e ficarmos de braços cruzados, passando mensagens estáticas aos nossos filhos.

No dia a dia, podemos ensinar às nossas crianças os princípios básicos de cidadania, conversar sobre comportamentos que nos desagradam ou agradam e porque e refletirmos juntos sobre novas possibilidades. Assim, teremos certeza de que somos o porto seguro, a base de confiança de nossos filhos, onde eles sabem que podem questionar pois serão ouvidos, podem argumentar e refletir sobre as questões da vida, sem meias palavras e objetivamente e assim, crescerão seguros sobre seus ideais, seus princípios e seus valores enquanto ser humano. 

" Um sonho sonhado sozinho é somente um sonho.
Um sonho sonhado junto é realidade." ( Raul Seixas)


"Uma pesquisa divulgada pelo Ibope em 25.11.03 traz dados preocupantes sobre as nossas relações de cidadania. Indica que 56% dos brasileiros não têm vontade de participar das práticas capazes de influenciar nas políticas públicas. 35% nem tem conhecimento do sejam essas práticas e 26% acham esse assunto “chato demais” para se envolver com ele. Nem tudo está perdido: 44% dos entrevistados manifestaram algum interesse em participar para a melhoria das atividades estatais, e entendem que o poder emana do povo como está previsto na Constituição. A pesquisa anima, de forma até surpreendente, quando mostra que 54% dos jovens (entre 16 e 24 anos), têm interesse pela coisa pública. Interesse que cai progressivamente à medida que a idade aumenta. A pesquisa ajuda a desmontar a idéia que se tem de que o jovem é apático ou indiferente às coisas do seu país."(1)

 (1) BARBOSA, B. Falta de informação limita participação popular. Cidadania na Internet. Rio de Janeiro, nov. 2003. Disponível em http://www.cidadania.org.br/conteudo.asp 







 





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