terça-feira, 30 de novembro de 2010

Educação financeira: por que não aprendi isso antes?


Imagem: dreams time

“Um sábio passeava pelo parque, quando um homem aproximou-se e disse:
- Hoje pela manhã meu filho me pediu dinheiro para comprar algo que custa caro. Devo atendê-lo, mestre?

- Se não for uma situação de emergência, aguarde uma semana antes de comprar o que ele pediu, sem garantir se vai ou não fazê-lo.

- Mas se tenho condições de atendê-lo agora, por que esperar?

- Fará grande diferença, respondeu o mestre. As pessoas só dão o real valor a algo quando têm a oportunidade de duvidar se irão ou não consegui-lo, ou se poderão ou não perdê-lo”.

Apesar de a educação financeira ser o melhor caminho para o sucesso financeiro, poucos pais se lembram disso ou são capazes de educar seus filhos a lidar com dinheiro, deixando um grande vazio na formação deles. Não vou por em discussão a maneira como cada um deve educar filhos. Quero apenas reforçar a importância de inserir no contexto esse importante assunto, desde a infância. Uma boa maneira de evitar que as crianças tenham dificuldades no futuro para lidar com a falta de dinheiro, seria ensiná-los a entender esse assunto, desde pequenos. Mas há uma alternativa melhor. A melhor coisa a fazer, seria evitar que eles tenham esse tipo de dificuldade, ensinando-os a economizar e a poupar desde a infância. Melhor do que saber lidar com falta de dinheiro é aprender a evitar ficar sem dinheiro.

É com essa visão que apresento este artigo. Quebrar o tabu de falar sobre finanças é um importante passo para criar uma geração melhor preparada para lidar com esse tema. Entre muitos livros que abordam esse assunto, existe uma série famosa que diferencia o tipo de educação passada por Pais Ricos e Pais Pobre a seus filhos, a qual apresenta abordagens interessantes. Independente da visão defendida pelos autores – a dos pais ricos, obviamente, é de se destacar a importância de ponderar as duas visões. É um interessante alerta para as decisões financeiras – e as decisões pessoais por detrás delas. Deixando de lado aquela mania maniqueísta de americanos, de classificar pessoas como vencedores ou perdedores, é válida a abordagem que valoriza o ensinamento de pais para filhos. É no ambiente familiar que deve ser despertado o interesse pelos assuntos financeiros. A falta de discussão em família pode deixar uma lacuna na educação dos filhos. Até porque, infelizmente, a maioria das escolas também não ensina a lidar com esse assunto, apesar de fazer parte do nosso cotidiano durante toda nossa vida.

Muitas pessoas adotam modelos semelhantes aos observados em casa. Os padrões familiares tendem a se repetir. Crenças monetárias são absorvidas por “osmose”, pela observação dos exemplos domésticos, de maneira mais forte do que eventuais conselhos passados de pais para filhos. Deixar um patrimônio imobiliário ou financeiro para os filhos não vai garantira tranqüilidade financeira deles, a menos que você também deixe como legado uma sólida educação financeira. Aliás, arrisco-me a dizer que o segundo fator é até mais importante do que o primeiro.

“[...] Conselhos de pais sobre dinheiro, geralmente bem-intencionados, são as informações mais influentes que recebemos acerca do assunto. Para acriança que fomos, não se tratou apenas da opinião de seres humanos falíveis quanto à realidade do mundo. Acreditamos nas mensagens daquelas conversas francas com mamãe e papai mais piamente do que se nos tivesse sido entregues por Deus em tábuas de pedra.[...]Dra.Victoria Felton-Collins.

Há muitos autores, como o Dr.Axel Capriles, que afirmam ser já na infância que as crianças percebem a relação do dinheiro com o nosso cotidiano. Portanto, não há dúvidas que ser preparado desde a infância para lidar com o dinheiro – elemento onipresente em nossa vida, viabilizará uma melhor relação como dinheiro na vida adulta.

“[...] As investigações empíricas sobre a gênese e o conceito do desenvolvimento do dinheiro para crianças, apontam que a noção mais primária da economia infantil é a imagem do dinheiro como símbolo da relação, vinculado à obtenção do prazer e a satisfação das necessidades e desejos [...] conseguem compreender a utilidade do dinheiro na compra de doces e chocolates”.[...] Axel Capriles

Não se sabe ao certo o motivo de judeus e árabes aparentemente terem mais sucesso financeiro do que pessoas de outras origens. O certo é que, apesar das grandes diferenças, ambos compartilham de comportamentos comuns às pessoas que sabem lidar com dinheiro. O fator cultural é fundamental nesse processo. Ainda que as crianças não recebam orientação formal a respeito na escola, com certeza são influenciadas por um ambiente familiar e comunitário que cultua tradições milenares de respeito e apreço ao “massari” (dinheiro, em árabe). Talvez essa seja a diferença. Aproveite os ensinamentos milenares. Crie em casa um ambiente favorávelà cultura financeira. É a melhor escola de finanças que seus filhospodem ter.

Considero positivas algumas experiências vividas por pré-adolescentes na busca de dinheiro extra. Iniciativas que ainda hoje são vistas, principalmente no interior, onde crianças montam postos de venda ou troca de revistas usadas, figurinhas, limonada, doces, serviços de jardinagem, artesanato e outras tantas que a mente juvenil desenvolve. Mesmo como brincadeira, são boas oportunidades parao amadurecimento financeiro. Minha sugestão seria apoiar essas experiências.

Alguns amigos e clientes com os quais abordei esse assunto, levantaram questionamentos sobre a forma de abordagem e o que se deveria esperar ao tratar o tema finanças com crianças e adolescentes. Procurei reunir e agrupar características observadas que podem contribuir com a formação de uma geração mais consciente e mais madura financeiramente, em contra-ponto ao consumismo desenfreado percebido em certos grupos.

Responsabilidade – Ao passar princípios de responsabilidade aos filhos, deve-se aproveitar para ensinar também sobre a responsabilidade de uso do dinheiro:

» Não se deve gastar tudo que se ganha.
» Não se deve assumir compromissos financeiros que não se possa cumprir.
» Dinheiro se guarda em lugar seguro.
» Primeiro se garantem as receitas, para depois realizar as despesas.
» Quem não tem reserva financeira, sempre paga mais caro quando precisa de dinheiro.
» Quem não sabe quanto gasta, sempre gasta mais do que precisa.

Independência – Ajude seus filhos a criar independência financeira. Estabeleça uma quantia fixa por mês ou semana (mesada) que seja suficiente e razoável para as necessidades deles. Faça com que se adaptem a esse valor. Até os 14 anos, é melhor pagar a mesada com intervalos menores (semanal ou quinzenal). A partir dessa idade, aumente o intervalo até coincidir com sua fonte de renda, preferentemente mensal, com dia fixo. A partir de uma certa idade, peça para que paguem pessoalmente as próprias despesas, mesmo que seja com seu dinheiro (academia, curso de inglês, mensalidades, etc.).

Estimule-os a controlar algumas contas domésticas. Abra uma conta de poupança em nome deles. A partir dos 16 anos, ajude-os a abrir também uma conta corrente.

Liderança - Para que seus filhos sejam preparados para ser bons chefes de família (homens ou mulheres), permita que participem das discussões sobre as finanças da família. Não espere grandes contribuições. Tampouco é necessário que eles conheçam todos detalhes. Faça pelo menos que fiquem informados sobre a situação financeira da família, e como se lida com esses assuntos no dia-a-dia, especialmente nos momentos de aperto. Isso pode ajudar a enfrentar eventuais momentos de crise.

Lembre-se de que o exemplo é o melhor ensinamento. Os filhos têm tendência de se espelhar nos pais. Dê bons exemplos de gestão financeira familiar e permita que compartilhem com você. Talvez seja a melhor oportunidade da vida deles para aprender a lidar com dinheiro. Deixe que aprendam também com eventuais erros. A pior crise é aquela que não deixa ensinamentos.

Adaptação - Para que aprendam a se adaptar mais facilmente à vida, ajude-os aperceber mudanças nas condições financeiras da família, o mais rápido possível. Não esconda o jogo, principalmente se a mudança for para pior. Quanto mais tarde todos se adaptarem a um novo padrão, piores serão as conseqüências. A tempestividade dos ajustes pode evitar desequilíbrios entre receitas e despesas.

Poupança – Para ensinar a poupar, dê exemplo e motivação. Evite comprar tudo que pedem, ainda que você possa. Motive-os a fazer escolhas. Faça com que elejam prioridades. Facilite para que juntem as próprias economias. Comece pelos cofrinhos e valorize cada centavo poupado. Procure estabelecer metas e contribua para que os objetivos sejam alcançados, sempre com pequenas doses de esforço. Se for possível, faça depósitos de reforço quando alguma meta for atingida.

Adversidades – Para ensinar crianças a lidar com as adversidades financeiras, aproveite para fazê-lo quando você tiver opção. Dizer não às vezes é difícil, mas em se tratando de dinheiro, é necessário e pode ser muito útil. Pais que satisfazem todos os desejos de consumo dos filhos acabam gastando muito. Às vezes mais do que podem. Se essa prática se prolongar, as reservas podem se consumir e o “não” deixará deser uma opção, será uma necessidade. É mais fácil administrar as negativas e concessões enquanto se pode, do que em situações de escassez.

Habilidade - Para que seus filhos desenvolvam habilidades negociais, dê-lhes oportunidades e estímulos. Negociação é uma arte que se desenvolve desde pequeno. Lembre-se de que na vida estamos freqüentemente negociando.

Ética –A relação das pessoas com o dinheiro é um ótimo parâmetro para aferição da ética. De acordo com a Dra.Victoria Felton-Collins, por volta dos dez a doze anos, o ser humano já adota as posturas e valores básicos em relação ao dinheiro. Sabemos que essa fase é das mais importantes para a formação da personalidade. Sendo assim, a educação financeira pode ser uma excelente oportunidade para tratar esse assunto e incutir nas crianças valores éticos e morais.

Dica
É comum ouvir que a educação de berço é a mais importante. Se isso realmente é verdade, vamos potencializar essa oportunidade. Introduzir Educação Financeira na família pode não garantir riqueza ou fortuna, mas certamente vai contribuir para evitar apertos e desacertos financeiros no futuro para a nova geração.

Autor: Álvaro Modernell



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Eu prefiro ser essa Metamorfose Ambulante



Esta foi a notícia que mais me deixou chocada depois que eu descobri que Papai Noel e Coelho da Páscoa não existem.

Como nosso cérebro é tendencioso e sempre acredita em tudo o que nos dizem ou no que lemos, tenho por hábito buscar informações que comprovem os fatos.

“Nunca acredite em tudo o que eu lhes digo. A minha verdade pode não ser a sua.”, falo aos meus alunos, porque acho importante que eles experimentem por eles mesmos o significado de plasticidade neuronal e sobre poder sempre aprender coisas novas, formar novas sinapses (imagine fogos de artifício na virada do ano. É isso.) e buscar novas verdades com base no conhecimento deles. “ Penso, logo existo.”

O cérebro A-DO-RA uma novidade.

Depois que li o artigo abaixo, não foi diferente e acabei descobrindo mais coisas interessantes.

Como trabalhamos a educação com base na neurociência, este é um dos temas que me atrai bastante e algumas coisas eu já conhecia e algumas outras coisas interessantérrimas e escritas do jeito que o nosso cérebro gosta de ler me prenderam à leitura (fogos de artifícios) e partilho com vocês, antes de contar a máxima do dia.

Suzana Herculano-Houzel autora dos livros O Cérebro Nosso de Cada Dia - Descobertas da Neurociência sobre a Vida Cotidiana(2002), Sexo, Drogas, Rock'n'Roll & Chocolate - O Cérebro e os Prazeres da Vida Cotidiana (2003), O Cérebro em Transformação (2005) e Por que o Bocejo é Contagioso? e Outras Curiosidades da Neurociência do Cotidiano (2007)

http://vetneuro.wordpress.com/

http://www.azzarellogroup.com/blog/2010/07/29/your-brain-on-stress/

Goleman, Daniel – Inteligência Emocional

www.cidadedocerebro.com.br

Finalmente, a resposta mais simples que eu precisava encontrar depois de tanta neurociência, veio de um trecho do livro “ Comer, Rezar, Amar” , de Elizabeth Gilbert.

…People universally tend to think that happiness is a stroke of luck, something that will maybe descend upon you like fine weather if you are fortunate enough. But that's not how happiness works. Happiness is the consequence of personal effort, [...] and once you have sustained a state of happiness, you must never become lax about maintaining it…

(tradução livre) ...As pessoas tendem a pensar universalmente que a felicidade é um golpe de sorte, algo que talvez lhe aconteça se você tiver sorte suficiente, como o tempo bom. Mas não é assim que a felicidade funciona. A felicidade é consequencia de um esforço pessoal.(...) e você precisa participar o tempo todo das manifestações de suas próprias bênçãos. E, uma vez alcançado um estado de felicidade, você nunca deve relaxar em sua manutenção....

Agora, sim, o artigo que me levou a pesquisar tudo isso e ficar encantada com mais um pouco.

Ao final das contas (lá vem a matemática), foi bom pra mim e espero que seja valioso para você também.

Texto original: http://darrenhardy.success.com/2010/11/to-be-great-be-grateful
Tradução livre: Silvia Alambert

Você sabia que o seu cérebro NÃO foi desenhado para te fazer feliz? Sei que isso parece ser alarmante para você, mas seu cérebro tem uma única função primária – mantê-lo vivo (* por conta da amígdala cerebral que não evolui desde os tempos das cavernas). Seu cérebro é programado especificamente para se concentrar em coisas negativas.

Isto é um problema caso você deseje amar, prosperar e ser feliz – aquelas coisas além da questão da segurança.

Deixando-o sem orientação, seu cérebro vai te cozinhar para buscar por eventos negativos (* no caso de muitos telejornais e tramas de novelas, eu chamaria de “ desgraças”) durante o dia, todos os dias de sua vida. O enigma é – aquilo que você pensa é o que acontece. Onde você concentra sua atenção é para onde ela vai, para onde sua energia flui, o rumo que a sua vida toma.

(* quer pior do que encontrar um colega no café e você pergunta: “ Oi. Está tudo bem?” e a pessoa começa: “ Menina, estou tão desanimada. Deixa eu te contar a última que o fulano aprontou comigo...” ou “ Nossa estou com uma alergia que é um sofrimento e não sei de onde vem e não estou aguentando e vou ter que ir ao médico e blá blá blá ...” Pronto. Acabou sua energia e seu cérebro também começa a pensar em coisas desgraçadas para você poder participar da conversa. Inacreditável mesmo a facilidade com que o cérebro rapidamente encontra uma desgraça. E quando a gente ainda começa a se coçar junto...).

Aqui é que entra o poder da gratidão. Se você quer direcionar sua vida para coisas positivas, você tem que direcionar sua mente para aquilo que é positivo e forçá-la a focar naquilo que você se sente grato.

Se você quer se sentir bem, você tem que focar na gratidão. Você pode mudar qualquer situação na sua vida simplesmente redirecionando sua mente para focar no que você julga ser certo, ao invés de focar no que você julga que é errado.

(* O Prof. Luiz Machado dá um exemplo até engraçado sobre isto. Ele diz que normalmente a pessoa quando faz uma oração ela pede assim: “ Senhor, proteja o meu dia. Não deixe que nada de mal me aconteça, não deixe que eu seja atropelado, não...”. Ele diz que com base nesta oração, a pessoa atrai tudo de ruim, porque o quadro mental enquanto ora, é o de se imaginar em situações que possam lhe acontecer, inclusive de se ver sendo atropelada. Deveria orar alterando o estado negativo do cérebro para um estado positivo).

Eu tenho um Desafio da Gratidão para você: Meu desafio é que você pense em uma área de sua vida que você encontra alguma dificuldade e tem o desejo de melhorá-la. Pelos próximos 21 dias, ao final de cada dia, invista 3 minutos e escreva sobre uma situação que você julga problemática na sua vida, mas de forma positiva e a qual você seja grato (* oops, parece difícil ? Claro, se o cérebro só pensa em coisa negativa normalmente... mas insista com ele para achar coisas positivas até nas situações negativas). Pode ser um colega de trabalho, seu emprego, uma situação no casamento..qualquer coisa ou qualquer pessoa que lhe cause frustração ou lhe afete de forma negativa.

Eu lhe afirmo que quando você mudar o seu olhar sobre a situação, a situação muda junto.

Quem está pronto para este desafio simples? Mãos à obra. Ler este blog não irá lhe ajudar. Como Johann Von Goethe disse, “ O saber sozinho não é suficiente; nós precisamos aplicá-lo.” Idéias que não são praticadas não tem utilidade alguma. Idéias executadas tem o poder de mudar o mundo – particularmente o seu.

Experimente o desafio. Não por mim, mas por você. Você tentará ? 3 minutos por dia durante 21 dias. Quem fará? Declare na seção de comentários que você tentará e que você estará comprometido em ser grato durante os próximos 21 dias. Não seja um “lurker” (* sem significado exato para o português, mas o mais próximo seria a pessoa que acompanha blogs, fóruns de notícias, faz parte de redes sociais, mas que nunca se manifesta. Tipo um “ observador”) silencioso, encoraje outras pessoas partilhando sua declaração na seção de comentários.

(*) minhas colocações

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O toque de Ouro

Imagem: http://www.dreamstime.com/
Iniciar a educação financeira de crianças contando histórias para que trabalhem os aspectos comportamentais e emocionais dos personagens envolvidos é sempre uma excelente alternativa para que possam compreender que as decisões emocionais precipitadas podem causar transtorno de toda ordem.

As histórias trabalham o imaginário das crianças , fazendo com que elas se coloquem na situação narrada e levando-as a reflexão da situação vivida pelos personagens apresentados.

No caso de crianças menores, se houver a possibilidade de trabalhar com elementos artísticos, tais como fantasias, fantoches e acrescentando a isso a emoção na narrativa, tornará a história mais rica e mais próxima do real.

Soma-se a isso tudo, o passeio pelo lado direito do cérebro (a criatividade), o ganho de vocabulário que toda a literatura traz, além da compreensão daquilo que está sendo lido ou narrado. Deixe-a contar livremente a história que acabou de ouvir.

Temos trabalhado com crianças e jovens em sala de aula a literatura voltada ao universo financeiro e empreendedor e lhes proporcionado momentos prazerosos de aprendizagem através da dramatização.

Experimente esta viagem fantástica com seus filhos e navegue no mundo da fantasia real.

Para começar, uma estória sobre a ganância.

O REI MIDAS
O toque de Ouro

Era uma vez um rei muito rico chamado Midas.

Ele possuía mais ouro do que qualquer outro no mundo inteiro, mas ainda assim não estava satisfeito. Nada o deixava mais feliz do que conseguir acrescentar um pouco mais à sua riqueza.

Mantinha-o todo guardado em enormes cofres nos subterrâneos do palácio, e passava muitas horas por dia contanto e recontando seu tesouro.

O Rei Midas tinha uma filhinha chamada Áurea.

Amava-a com verdadeira devoção, e dizia: "Ela será a princesa mais rica do mundo!"

Mas a pequena Áurea nem se importava com isso. Adorava seu jardim, as flores e o sol, mais do que a riqueza do pai. Ficava sozinha a maior parte do tempo, pois o pai estava sempre ocupado, buscando novas formas de conseguir mais ouro, e contando o que já possuía, de tal sorte que quase nunca tinha tempo para contar-lhe histórias ou passear, conforme deveriam fazer todos os pais.

Um dia, o Rei Midas estava na sala do tesouro nos subterrâneos do castelo.
Havia trancado as pesadas portas do aposento e aberto os enormes baús.
Despejou todo o conteúdo sobre a mesa e pôs-se a brincar com o ouro como se o simples toque o deixasse satisfeito.
Fazia-o escorrer entre os dedos e sorria ao ouvir o tilintar das peças, qual doce melodia. De repente, uma sombra se projetou sobre a pilha de objetos. Ao levantar os olhos, deu com um estranho trajando roupas brancas brilhantes e sorrindo para ele.
Soergueu-se, surpreso. Não se esquecera de trancar as portas! O tesouro, então, não estava seguro! Entretanto, o estranho continuou sorrindo.

- Vossa Excelência tem muito ouro - disse ele.

- Tenho, sim - disse o rei -, mas é pouco comparado a todo o ouro que existe no mundo!

- Ora! Esse ouro todo não satisfaz a Vossa Excelência? - perguntou o estranho.

- Ora, essa! - respondeu o rei - Mas é claro que não estou satisfeito. Passo longas noites acordado planejando novas formas de conseguir mais. Gostaria de poder transformar em ouro tudo que toco.

- É isso que Vossa Excelência realmente deseja?

- Claro que sim! Nada haveria de deixar-me mais satisfeito.

- Pois o desejo de Vossa Excelência será atendido. Amanhã de manhã, quando os primeiro raios de sol adentrarem os aposentos, Vossa Excelência terá o toque de ouro.

Ao terminar de falar, o estranho desapareceu.

O Rei Midas esfregou os olhos.
- Devo ter sonhado - disse ele -, mas como eu ficaria feliz se isso fosse verdade!

No dia seguinte, o Rei Midas acordou quando a primeira luz do dia se fez presente em seus aposentos. Esticou a mão e tocou as cobertas da cama. Nada aconteceu.

- Eu sabia que não poderia ser verdade - exclamou, desapontado.

Naquele exato momento, entraram pelas janelas os primeiros raios de sol. As cobertas onde estava encostada a mão do rei transformaram-se em ouro puro.

- É verdade! É verdade! - gritou ele, muito contente.

Saltou da cama e correu pelo aposento tocando em tudo que havia. O manto real, os chinelos, os móveis, tudo virou ouro. Foi até a janela e olhou para o jardim de Áurea.

- Vou fazer-lhe uma boa surpresa - disse ele. Desceu ao jardim e tocou todas as flores da filha, transformando-as em ouro.

- Ela ficará muito satisfeita - pensou.

Voltou aos seus aposentos para aguardar a chegada do café da manhã e se dispôs a retomar a leitura da noite anterior, mas assim que suas mãos tocaram o livro, o objeto se transformou em ouro maciço.

- Não posso ler, assim - disse o rei -, mas, ora, é bem melhor ter um livro de ouro.

Naquele exato momento, um criado entrou nos aposentos, trazendo-lhe o café da manhã.
- Que beleza! Vou começar pelo pêssego, que está vermelhinho de tão maduro.

Pegou-o então, mas, antes de conseguir comê-lo, já se havia transformado num pedaço de ouro. O Rei Midas o colocou de volta no prato.

- É muito bonito, mas não posso comê-lo! - disse ele.

Pegou uma broa de pão, mas também ela se transformou em ouro.
Colocou a mão no copo d'água, mas tudo virava ouro.

- O que vou fazer? Tenho fome e sede. Não posso comer nem beber ouro!

E logo a pequena Áurea entrou em seus aposentos. Ela estava chorando, muito sentida,

e trazia nas mãos uma das rosas.

- O que houve, filhinha?

- Ah, papai! Veja o que aconteceu com minhas rosas! Estão todas duras e feias!

- Ora, são rosas de ouro, filha. Você não acha que estão mais bonitas agora?

- Não - disse ela, soluçando. - Não têm mais o agradável perfume que tinham. Não crescerão mais. Gosto de rosas vivas.

- Não se preocupe - disse o rei -, venha tomar seu café.

Entretanto, Áurea percebeu que o pai não comia e que estava triste.

- O que houve, meu querido pai? - perguntou ela, aproximando-se.

Deu-lhe um abraço e ele a beijou, mas, de repente, o rei soltou um grito de pavor.

Ao tocá-la, o lindo rostinho transformou-se em ouro brilhante, os olhos não viam mais, os lábios não conseguiram beijá-lo também, os bracinhos não o estreitaram.

Deixou de ser uma adorável e carinhosa menina; transformara-se numa estatueta de ouro.

O Rei Midas baixou a cabeça e os soluços o sobrepujaram.

- Vossa Excelência está feliz? - alguém perguntou.

O rei levantou a cabeça e viu o estranho de pé a seu lado.

- Feliz! Como te atreves a perguntar uma coisa dessas? Sou o homem mais triste na face da terra! - disse o rei.

- Vossa Excelência tem o toque de ouro. E isso não basta?

O Rei Midas não tornou a olhar para o estranho, nem respondeu.

- O que Vossa Excelência prefere: comida e um copo d'água fresca ou essas pedras de ouro? - disse o estranho.

O Rei Midas não conseguiu responder.

- O que prefere ter, ó Majestade? Aquela estatueta de ouro ou uma menina que pode correr, rir e amá-lo?

- Ah, devolva-me minha filhinha Áurea e eu abdicarei de todo o ouro que tenho! - disse o rei. - Perdi a única coisa que realmente me valia ter.

- Vossa Excelência demonstra agora mais sabedoria do que antes - disse o estranho.

- Vá mergulhar no rio que passa nos fundos do jardim, e depois leve um pouco da água para jogar sobre tudo aquilo que deseja ter de volta ao normal.

O estranho, então, desapareceu.

O Rei Midas levantou-se rapidamente e foi correndo até o rio. Mergulhou, pegou um bocado de água e retornou ao palácio. Jogou-a sobre Áurea e as cores voltaram a iluminar seu rosto.

Ela tornou a abrir os olhinhos azuis.

- Ora, papai! - disse ela - O que aconteceu?

Chorando de alegria, ela a pegou no colo.

Depois disso, o Rei Midas nunca mais se preocupou com ouro algum, a não ser o ouro que existe no brilho do sol e nos cabelos da pequena Áurea.

Adaptação de O livro das maravilhas,

de Nathaniel Hawthorne