domingo, 30 de outubro de 2011

Pais podem ensinar os filhos como administrar o dinheiro

Fonte: Jornal Diároweb

É de criança que se aprende
São José do Rio Preto, 30 de Outubro, 2011 - 1:47
Liza Mirella
Guilherme Baffi
 
É a partir da infância que o trato com o dinheiro
vai moldar como o adulto vai lidar com esse
bem tão valioso. Por isso, a educação financeira
deve ser inserida na vida das crianças logo cedo.
A educadora financeira Silvia Alambert, da
The Money Camp, afirma que o assunto deve
ser tratado com naturalidade e não como
uma obrigação. Mais que isso, se o dinheiro
for visto como motivo de tristeza pode causar graves consequências na
vida adulta. “Essas crenças que a gente carrega têm grande interferência
no modo como fazemos dinheiro ao longo da vida.
” Isso quer dizer que a criança pode se transformar num adulto que
sabe administrar seus recursos ou em um que gasta além de conta
e vive em meio a dívidas.

O assunto dinheiro pode entrar na vida de uma pessoa a partir dos 3 anos
ou 4 anos. Nessa fase, o ideal é que a criança passe a ter contato com
o dinheiro, possa manuseá-lo e o utilize para alguns pagamentos.
Segundo Silvia, embora não haja uma compreensão profunda, a criança já
passa a absorver algumas noções.
“Ela pega o produto, paga com dinheiro, recebe um troco”, afirma.
Outro exercício interessante e que funciona como aprendizado é pegar
as moedas que recebeu de troco para guardar no cofrinho.
“A criança passa a entender que parte do dinheiro a gente gasta e parte
a gente guarda”, diz.

Segundo Silvia, o dinheiro é visto pela criança como uma ferramenta de troca.
Ela entende que a moeda é um instrumento que a faz obter coisas.
Em função disso, é necessário que aprenda desde cedo que o dinheiro
só serve para alcançar sonhos, é um meio na vida e não uma finalidade única.
“A conversa entre pai e filho deve ser natural, conforme a situação vai
acontecendo. O papo não pode se tornar chato para que a criança nunca mais
queira tocar no assunto e passe a administrá-lo de qualquer jeito.”

Depois do contato inicial com moedas e cédulas, entra a etapa de os pais
discutirem desejos e necessidades dos filhos e isso ocorre à medida que
as crianças vão crescendo. Mais uma vez, o diálogo entra em cena e as
crianças devem ser questionadas sobre o que querem gastar naquele
momento porque pode surgir outro desejo na semana, mais caro.
“É preciso discutir se não é melhor esperar e fazer uma escolha entre
os dois”, ensina.

Mesada

A ferramenta mais importante da educação financeira das crianças, a mesada,
pode entrar na vida da criança a partir dos 5 anos. Silvia explica que ela é
fundamental porque só quem tem dinheiro pode administrá-lo. Mas, nessa
fase, ela ainda é semanada, já que um mês é um prazo muito longo para ser
entendido por crianças dessa faixa etária. O valor da semanada deve ser
decidido de acordo com o orçamento da família e adequado à idade.
Uma sugestão está na faixa de R$ 5 a R$ 10.
“Uma criança de cinco anos não tem grandes necessidades, mas ela
sempre quer um docinho, uma figurinha, um álbum”, diz.

A ideia da semanada ou mesada é para ensinar a criança que ela tem
de administrar o dinheiro durante esse período e que, se acabar, acabou.
Vai ser preciso esperar a data estipulada pelos pais para o próximo
recebimento. Nesse sentido, duas premissas são fundamentais aos pais:
cumprir o que foi acordado e não falhar, dizendo que naquela semana ele
não tem dinheiro e, do mesmo modo, não ceder e dar mais dinheiro se a
criança pedir.

Segundo Silvia, se a criança pedir mais, o pai deve dizer de forma simples
que as pessoas não têm dinheiro a toda a hora, que ele não acontece de
forma mágica e que os adultos também têm um dia em que recebem,
assim como o acordo feito entre os dois. E, se a criança receber a mais, ela
terá a sensação de que tem facilidade de crédito.
“A criança precisa entender que o dinheiro mal administrado acaba.
A maioria dos adultos se enrola porque pede empréstimos a toda hora”, afirma.

Aos 9 já dá para administrar a mesada

A partir dos 9 anos, afirma Silvia Alambert, a criança já tem total capacidade
de administrar uma mesada. Novamente, o valor vai ser determinado de
acordo com as condições da família, mas ele não deve ser tão baixo que
exclua a criança do meio social em que vive e nem tão alto que não a
permita se planejar para conseguir seus sonhos.
Nessa idade, as necessidades da criança mudam. Ela passa a querer sair
com amigos para passeios no shopping e lanches com a turma.
O dinheiro que o pai usava para pagar essas despesas deve ser entregue
à criança.

Agora vem uma dica interessante e que pode até causar estranheza:
o pai deve deixar a criança quebrar financeiramente no começo para que
ela possa sentir que é ruim ficar sem dinheiro.
“Com isso, ela tem a real percepção de que se não administrar bem o
dinheiro, fica sem”, afirma.
A educadora afirma que essa experiência de falência faz com que a
criança passe a lidar melhor com o dinheiro, principalmente se já
 vinha recebendo os ensinamentos anteriormente.
As chances de quebrar novamente caem e as de ter sobra aumentam.
“A criança tem uma percepção grande. Rapidamente entende que
se acabou, magoou.”

Silvia dá um exemplo de como a percepção infantil é sólida.
Um de seus alunos queria tomar café da manhã todos os dias na
padaria quando o dinheiro era da mãe. Quando ela passou a entregar
o dinheiro a ele, a padaria ficou sem graça.
Hoje, ele usa o dinheiro com coisas que julga mais interessante.
Também não fica quebrado financeiramente porque já aprendeu
que é bom gastar um pouco e guardar um pouco.

Conta no banco

A abertura de uma conta bancária para a criança deve ocorrer,
se possível, antes mesmo de seu nascimento. Essa reserva ajuda os
pais a conduzir a criação e educação do filho.
Quando a decisão é na infância, segundo Silvia, o fundamental é
que os pais tenham paciência para educar o filho financeiramente.
Isso pode ocorrer aos dez anos, com uma conta poupança.
 “A criança vai movimentar com auxílio dos pais. Ela não fica com o
cartão porque ainda não discernimento e pode perdê-lo”.

A entrada do cartão de crédito na vida da pessoa não deve ocorrer
antes dos 15, 16 anos. Nessa idade, o adolescente já tem mais
responsabilidades na vida e pode começar a manusear e aprender
a utilização o cartão de crédito.
Embora esteja havendo a substituição pelo dinheiro de plástico,
é mais fácil gastar o que não se vê, afirma Silvia.
“O cartão engana o cérebro e a pessoa acha que o limite disponível
é seu dinheiro.”

Famílias tentam educar os filhos

A educação financeira das crianças da família Masocatto Andrade Pereira
começou cedo. Thales, 9 anos, David, 7, e Caio, 5, já têm seus cofrinhos
 e administram suas semanadas, cada um a sua maneira e de acordo
com a faixa etária. A mãe, Ana Masocatto Andrade, conta que os filhos
recebem R$ 10 por semana. “O assunto entrou na vida deles quando
eles começaram a pedir coisas. Entendemos que era hora de ensinar
que era preciso poupar para conseguir”, afirma.

Como ainda não têm muito cuidado com o dinheiro, a mãe montou
a estratégia de pagar e descontar o débito do saldo cada um.
“Eles não gastam muito, gostam de guardar. É impressionante
como as crianças têm a capacidade de aprender.”
Para David, o dinheiro é o que o ajuda a comprar as coisas que quer.
Hoje, tem R$ 200 guardados. Faltam apenas R$ 39 para comprar o
brinquedo que deseja no Natal. “Gosto de comprar brinquedos e livros.”

Perfis diferentes

Na casa de Ana Laura Zanardi Anunciação, 8 anos, e Victor Hugo, 13,
a educação financeira começou cedo para evitar que fossem
enganados. “Desde pequenos eles já conheciam as notas,
sabiam distinguir os valores e tinham noção de troco”, explica a mãe,
Marisa Zanardi.

Ela conta com os dois filhos têm perfis bastante diferentes.
Ana Laura é a econômica, tanto que já juntou mais de R$ 1 mil.
“Ainda não sei como vou gastar o dinheiro, mas estou guardando
e fico feliz em juntar”, afirma. Victor Hugo é mais consumista.
Seus principais desejos são relacionados ao esporte predileto, o tênis,
e acessórios para o celular. Mesmo assim, procura não extrapolar.
“Se acaba a mesada, fico sem dinheiro e espero receber”.

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