sexta-feira, 25 de junho de 2010

Educação Financeira

Imagem: dreamsimage
Como sempre venho mostrando, a educação financeira por si só (ensinar como ganhar dinheiro, poupar, planejar e investir, gastar com inteligência e doar), não transforma necessariamente as pessoas em cidadãs conscientes sobre seu papel no mundo.


Há muito mais valores éticos, morais e filosoficos que devem ser transmitidos de forma conjunta ou isolada para que a matéria " educação financeira" possa ser, de fato, transfomadora em termos pessoais e culturais.

Não se pode, pelo modismo que a palavra " educação financeira" ganhou nestes últimos tempos, trabalhar com "tentativas" de ensinar finanças a crianças e jovens, nem tampouco " aparecer" repentinamente com uma nova matéria que seja trabalhada de forma pontual. A educação - não só a  financeira - deve ser trabalhada de forma continuada, ao longo da formação das crianças e jovens, para que passe a fazer parte do processo educacional e, por isso, seja transformador. O ser humano aprende por modelos e através da repetição. Não há mágica na educação, mas para que a educação seja eficaz e tenha impacto, é necessário que o educador esteja engajado com a missão e que tenha ferramentas em mãos que permita despertar no aluno o desejo de aprender algo que será importante para a sua vida. 
 
Quantas vezes você teve que orientar seus filhos com relação a diversas coisas (higiene pessoal, responsabilidade com seus pertences e suas obrigações, etc etc etc), até que eles realizassem tudo isso de forma natural? Isto é um processo educacional. Pode levar anos...e, vamos combinar, ensinamos aos nossos filhos o que fomos ensinados. Não temos como ensinar o que não sabemos.
 
Então, até mesmo os pais que desejem iniciar com a educação financeira de seus filhos, devem estar engajados na missão, isto é, não basta querer ensinar, tem que conhecer sobre a matéria e aplicar para si mesmo o que quer se ensinar ao outro. Caso contrário, o ensinamento ficará perdido e desordenado, levando a consequencias desastrosas.

Como bem colocado na matéria abaixo (leia na íntegra), sem o devido preparo do educador e a abordagem dos temas financeiros de maneira adequada " (...) formaremos jovens gananciosos, individualistas e propensos a se corromper, (...)".



Educação financeira não é prioridade

21 de junho de 2010
Folha de S.Paulo (SP)

GUSTAVO CERBASI
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Antes da educação financeira, deveríamos garantir na escola o ensino da ética e da cidadania

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" É QUASE unânime a percepção de que adultos que foram orientados quanto ao bom uso do dinheiro fazem escolhas mais equilibradas, gastam menos com juros e, portanto, consomem com mais qualidade. Às vezes, também assumem as rédeas da construção de um futuro sustentável e poupam para ter uma vida tranquila ao se aposentar.

Ciente dos evidentes ganhos decorrentes da educação financeira, a sociedade comprou a ideia da necessidade de incluir o tema no currículo escolar de nossas crianças.

Mas, divergindo da opinião predominante e abrindo mão do fisiologismo que deveria ser inerente a minha profissão, discordo da ideia de que a educação financeira deva ser prioridade na escola. Talvez não estejamos preparados para isso. Para um programa funcionar bem no processo educacional, por mais estruturado que seja, temos que ter professores bem preparados no tema.

Finanças é mais do que fazer contas e controlar gastos. Estariam nossos professores realmente capacitados a debater assuntos como qualidade de consumo e projetos de longo prazo? Qual a motivação ou a capacidade de convencimento deles? Nesse ponto, creio que nossa sociedade está no caminho certo, promovendo o debate nos meios de comunicação. Aprender por curiosidade, e não por compromisso, é um meio interessante de disseminar o assunto e formar uma cultura.

Além disso, é questionável priorizar temas cujas bases não foram devidamente preparadas. Antes da educação financeira, deveríamos garantir nas escolas o ensino da ética e da cidadania. Sem isso, formaremos jovens gananciosos, individualistas e propensos a se corromper, qualidades que conhecemos muito bem na gestão pública que nos governa.

O brasileiro simplesmente não consegue pensar e agir coletivamente, e isso é uma falha de nossa educação. Com bases éticas e cidadãs, os futuros adultos estariam mais propensos a lidar com a doação e filantropia, pilares importantes da educação financeira.

Também antes da educação financeira, sinto a necessidade de desenvolvermos os conhecimentos de filosofia entre nossas crianças. Já presente no currículo escolar, o assunto recebe pouco importância e é tratado como conhecimento avulso.

Deveria ser mais estimulado, pois cidadãos conscientes são aqueles capazes de questionar seus valores, duvidar de argumentos vendedores e quebrar paradigmas na construção de sua carreira e de sua sociedade. Uma visão mais crítica da realidade em que vivemos certamente agrega valor a nossas ideias e aumenta o potencial de ganhos em nossa carreira.

Outra prioridade é a educação para o empreendedorismo. Antes de aprender a lidar bem com o dinheiro que ganhamos, devemos ser capazes de produzir riquezas. É lamentável imaginar que muitas famílias estimulem seus filhos a serem apenas bons empregados, ignorando que carreiras formais dificilmente vão além dos 60 anos. A vida pode ir bem mais longe.

Empreender é saber fazer planos, é encontrar meios de sustentar a vida sem depender da conveniência e da vulnerabilidade da carteira assinada. É saber convencer nossos pares de que somos capazes de fazer bem aquilo que ainda não nos deram oportunidade de fazer. Empreender não é simplesmente montar um negócio próprio, mas sim fazer algo diferente. Empresas que contam com funcionários de visão empreendedora têm um time de agregadores de valor, e não de burocratas.

O currículo escolar de hoje busca tempo e recursos para ensinar mais um idioma, mas tecnologia e mais qualidade de vida às crianças. Se, nessa competição dos conhecimentos, encontrarmos espaço para que nossos jovens sejam mais éticos, cidadãos, questionadores empreendedores, talvez já tenhamos dado um grande passo para que esses jovens construam uma cultura mais madura de bom uso do dinheiro.

Enquanto isso não acontece, seria muito bom que a educação financeira estivesse ao menos presente de forma interdisciplinar. Que tal começar com um debate entre pais e professores no próprio ambiente da escola?"

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