quinta-feira, 5 de julho de 2012

Como eu faço para investir na Bolsa?

Investir na Bolsa
Por Eli Borochovicius
A cada novo semestre recebo, em média, 180 novos alunos e percebo que, embora seja uma geração tecnológica, independente, autônoma e empreendedora, uma grande maioria sonha em entender o funcionamento da Bolsa de Valores, demonstra interesse em investir, mas é temerosa.
Quando ouço a pergunta “Como faço para investir na Bolsa?” costumo brincar respondendo que basta procurar pela sigla BVMF3. Aguardo alguns segundos pela reação de “não entendi nada” e passo então a explicar.
Em 2007, mais precisamente em 28 de agosto, a Bolsa de Valores deixou de ser uma sociedade sem fins lucrativos e passou a ser uma sociedade por ações, que passaram a ser negociadas na própria Bolsa em outubro do mesmo ano.
A reação então deixa de ser “não entendi nada” para “agora piorou, confundiu minha cabeça”. Como assim a Bolsa tem ações na Bolsa?
Antigamente a Bolsa de Valores era um espaço físico onde os corretores se juntavam para fazer ofertas de compra e venda de ações. De forma simplificada podemos dizer que, quando a gente quer comprar ou vender um carro podemos ir a uma loja de veículos. Mas, se quisermos comprar ou vender empresas, devemos ir à Bolsa. Então as pessoas se encontravam ali e negociavam as suas ações, como em uma grande feira livre.
Enquanto existiam poucas empresas no mercado e poucos investidores, estava indo tudo bem, mas a economia mudou, o mercado começou a crescer, as empresas foram surgindo e passaram a entender que poderiam crescer vendendo uma parte delas para pessoas físicas e jurídicas, de forma pulverizada.
É possível dizer que a empresa corre riscos menores com a tomada de recursos no mercado de capitais frente a empréstimos bancários. A devolução do valor investido se dá na forma de distribuição dos lucros e não de pagamento de juros. A partir daí, o acionista passa a ter direito de receber os lucros da empresa em que ele investiu.
É como se você optasse por investir em uma padaria. Aluga o imóvel, compra as máquinas financiadas pelo banco, as mercadorias, contrata os profissionais e a padaria passa a funcionar. No final do mês, paga o aluguel, a prestação das máquinas, os fornecedores, os salários e o que sobrar (lucro) é seu.
Isto significa que, quando você compra uma ação pela primeira vez, está investindo no negócio, pois a empresa captou os recursos para funcionar. Existem outros motivos para uma empresa captar recursos no mercado de capitais, como por exemplo, a reestruturação de passivos, a imagem institucional e os arranjos societários. Mas vamos nos ater, especificamente, no objetivo de crescimento e desenvolvimento da empresa.
Pois bem, supondo que não queira mais ficar com a padaria, você pode vendê-la. O que não significa que a padaria ganhou mais dinheiro, apenas trocou de sócio. Agora quem vai receber os lucros no final do mês é o novo sócio e não mais você.
Na Bolsa de Valores é assim que funciona, mas tem muita gente querendo comprar e vender a padaria. Desta forma, surgiram os intermediários, que costumamos chamar de especuladores. São pessoas que percebem que tem muita gente querendo vender a padaria e a compram por um preço baixo. Esperam a padaria fazer um pãozinho diferente e se destacar no mercado, e a revendem por um preço mais alto. É verdade que existem estratégias diferenciadas, mas deixemos para outro momento.
Percebe como estas pessoas são importantes? Elas compram e vendem o tempo todo. O que significa que, no dia em que você quiser vender a empresa, terá muita gente querendo comprar e vice-versa. A isso damos o nome de liquidez. Quanto mais fácil for vender a empresa, maior é a liquidez. Por este motivo dizemos que a especulação é importante, ela dá liquidez para o mercado.
O bacana disso tudo é que as ofertas de compra e de venda não são feitas ”na surdina”. São feitas publicamente, ou seja, todo mundo sabe qual a melhor oferta de venda e a melhor de compra.
Para que você tenha a ação de uma empresa e seja reconhecido como acionista, com direito a receber os lucros, o seu nome deveria constar no livro da empresa. Mas, devido ao avanço tecnológico, no livro da empresa consta que as ações estão sob responsabilidade da Bolsa. Isto significa que, quando você compra uma ação, está comprando da Bolsa e, quando vende, está vendendo para a Bolsa. A isto, damos o nome de contraparte. A Bolsa entende que, quando você dá uma ordem de compra, ela deve pegar o seu dinheiro em um primeiro momento, pegar a ação do vendedor em um segundo momento e fazer um cruzamento, entregando o dinheiro para o vendedor e as ações para você.
Mas, já pensou se alguma coisa dá errado? Imagine se você não tiver o dinheiro ou se o vendedor não tiver a ação? Como a Bolsa é contraparte, ela que se responsabiliza pela negociação.
Com isso é possível entender que a Bolsa de Valores é uma prestadora de serviços e, para tanto, uma empresa como qualquer outra. Ela presta serviços, recebe por eles, paga seus funcionários e apresenta um resultado.
Pois bem, se ela é uma empresa, pode também ser uma sociedade anônima e de capital aberto. Isto significa que, investir na Bolsa, é comprar ações da empresa prestadora de serviços cuja sigla é BVMF3.
É por isso que brinco com os alunos quando perguntam o que fazer para investir na Bolsa. Explico que a pergunta deveria ser “Como fazer para investir nas empresas listadas em Bolsa?”.

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