André Maia Gomes Lages
Economista e professor da graduação e mestrado em Economia da Feac/Ufal.
andré_lages@msn.com
O Brasil é certamente um país que, apesar de seus problemas, concorre para possibilidade de as pessoas terem alguma mobilidade social. Por outro lado, a modernização do nosso sistema econômico mudou o padrão de gastos das famílias e delegou às pessoas mais responsabilidades e cuidados nas suas decisões de natureza econômica.
Infelizmente, boa maioria dos consumidores ainda tomam decisões erradas. Avise-se antecipadamente que os autores dessas linhas não se sentem exemplo de nada, mas acreditam perceber equívocos em tantas famílias em suas menores decisões econômicas.
Parece prevalecer aquela filosofia do Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar". E a vida vai levando mesmo, da forma mais desmantelada possível, em muitos casos.
Como um bom curioso, faça o teste e insista em perguntar aos pais de família que seguem aquela filosofia: por que não a decisão na forma de pagamento A ao invés da B, por determinado produto, quando a primeira é nitidamente bem mais racional?
Recebe-se dos amigos despreocupados as desculpas mais absurdas que você, prezado leitor, já está acostumado a ouvir, de pessoas apertadas em meio a tantos problemas. "Não sei se vou estar vivo amanhã" ou "Quando eu morrer, não vou levar dinheiro comigo".
E as décadas passando, de uma morte que não vem, mas as cervejinhas e os gastos mais que supérfluos estão sempre em pauta, mesmo com o cartão de crédito estourado ou no limite. Além disso, a opção poupança (ou outras formas de aplicação financeira ainda mais convidativas) está naturalmente sempre zerada ou bem negativa.
Se houvesse mais racionalidade nas decisões, seria permitido àquele pai garantir um sustento mais razoável da família ou até algum progresso na vida, nos anos que virão. Por sinal, antes de continuar, deve ser lembrado que novas mudanças de hábitos de consumo irão acontecer por conta, inclusive, das pressões do homem ao meio ambiente, e os problemas ecológicos pertinentes.
Existem, contudo, dificuldades de se adaptar às mudanças, e educação financeira primária, de saber gastar, saber aplicar. É preciso saber viver, já dizia a música cantada por Roberto Carlos. O que adianta ter inúmeras compras que cobram juros pesados sabidamente aliviados em várias prestações?
São tantas as situações diferentes. Existe também aquela loja que embute um componente de juro real altíssimo nas prestações e oferece o mesmo preço a vista. O consumidor não pode se comportar indiferente a tudo isso. É o que costuma acontecer, porém.
Não fazer uma reflexão sobre esse tipo de comportamento implica a repetição de erros e sofrimentos familiares desnecessários. A parte mais frágil das pessoas está no bolso, no sentido de que são as dificuldades de sustento que geram boa parte de conflitos entre membros de uma mesma família. Em muitos casos, o convívio é uma perfeição, mas quando se fala em herança, por exemplo; é um Deus nos acuda.
Uma outra situação não menos relevante é o exercício de pedir um simples cupom fiscal. Muitos consumidores entendem que pedir a nota não faz parte da sua vida como cidadão, ou se envergonham em fazer isso.
Se querem, entretanto, que o sistema econômico em que vivem funcione melhor do ponto de vista econômico e social, então pedir a nota faz parte dessa possibilidade, particularmente, quando se tem a consciência de que a sonegação fiscal é uma realidade.
Isso acontece por conta desse comportamento do consumidor de deixar a vida o levar, simplesmente. Dessa forma, não poderá obter os benefícios que são claros com apenas o exercício do seu direito de pedir um cupom fiscal.
Não se pode reclamar da sorte, quando não se faz o mínimo esforço para ser presenteado pelo destino, sempre culpado, em última instância, pelos nossos erros. É tempo de se mudar de atitude. Entre Zeca Pagodinho e Roberto Carlos, parece mais sóbrio seguir o conselho do Rei.
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