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O abono de final de ano de 60% dos brasileiros será para pagar dívidas, aponta pesquisa da Anefac
28.11.2011
Victor Albuquerque
victor.silva@redebahia.com.br
O dinheiro do 13º salário da atendente de telemarketing Jose Ferreira nem vai esquentar no bolso. Sairá do banco direto para a mão dos credores. Ela quer quitar a dívida de dois cartões de crédito e pagar parte de um terceiro débito que, juntos, somam R$ 700. O abono de final de ano de 60% dos brasileiros terá o mesmo destino que o de Jose, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Opção essa que, na visão dos especialistas, é a mais inteligente para quem tem dívidas e quer começar 2012 no azul.
“Pagar os débitos é sim um bom negócio. É o primeiro passo para conseguir organizar a vida financeira”, explica o especialista em finanças Gilberto Braga. Mas, de acordo com ele, antes de sair por aí pagando tudo o que deve, é preciso usar o dinheiro com inteligência. “Planejar é a palavra de ordem. É importante colocar no papel as dívidas e os gastos que se pretende fazer, desde presentes até o dinheiro que será poupado para férias, impostos, despesas de casa, entre outras coisas”.
Educadora financeira, Silvia Alambert concorda com Braga quando ele diz que o melhor a fazer é pagar o que se deve. E ela ensina: o ideal é quitar aquela dívida que tem taxas de juros mais altas, como cartão de crédito e cheque especial.
Para quem está encalacrado em mais de um lugar, ela diz que o melhor a fazer é saldar pelo menos um débito por inteiro.
“Quem paga tudo um pouquinho não paga nada. A pessoa pode se livrar logo de um credor e negociar com os demais, ajustando depois as parcelas no orçamento”, ensina.
O que não pode, segundo os especialistas, é pagar tudo e depois se enrolar com novos parcelamentos. “Se o momento não está bom, nada de sair distribuindo presentes caros”, alerta Silvia.
Além disso, Braga lembra que o início do ano estará repleto de novas contas a pagar, como matrícula escolar (para quem tem filhos), IPVA (para os motorizados), IPTU, entre outros. “Tem que se organizar de olho nesses eventos”, orienta.
Mas, se não dá para deixar o Natal passar em branco, a dica é limitar os gastos. Fazer uma lista com o nome de quem será presenteado e estabelecer um valor máximo para o presente. “Quando se faz uma referência de valor, funciona melhor no planejamento”, garante Braga. Para Silvia, é preciso ter muita calma nessa hora. “Não tem nada de inteligente em estar endividado e gastar com presentes. Então, a saída é evitar produtos caros e financiamentos”.
Este ano, o 13º salário injetará R$ 118 bilhões na economia brasileira, sendo R$ 4,9 bilhões na Bahia, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em todo o estado, 4,3 milhões de trabalhadores e aposentados receberão o benefício.
Investimento
Para quem está livre dos débitos, investir o dinheiro do 13º salário pode ser um bom negócio. Braga indica a poupança e os fundos de renda fixa. Já Silvia acredita que o dinheiro pode ser aplicado, inclusive, em ações. “Hoje é possível investir nesse mercado com até R$ 100”, explica. Segundo ela, é importante, nessas horas, buscar um especialista que vai avaliar o seu perfil financeiro e indicar o melhor negócio para se investir.
Mas é bom saber que os três casos só trarão um retorno positivo se a pessoa estiver pensando a médio e longo prazos. “Não adianta aplicar se na primeira emergência tirar o dinheiro do banco”, diz.
Momento de pagar
Para os especialistas, essa é a hora de buscar as financeiras e operadoras de cartão para negociar débitos. Isso porque, de olho no consumo de final de ano, as empresas tendem a oferecer melhores condições de negociação das dívidas. “O melhor momento para pagar as contas antigas é agora”, diz Silvia.
De acordo com a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor - Proteste, quem tem dívidas deve aproveitar as diversas opções oferecidas pelas financeiras, lojas e bancos, como alongamento dos prazos, desconto para quitações à vista e abatimento nas taxas de juros ou multas que normalmente são oferecidos nesse período.
Presentes de Natal ficam em segundo plano
De acordo com levantamento da Anefac, houve uma redução de 10,53% de 2010 para 2011 no número de consumidores que pretendem utilizar o 13º para a compra de presentes. Segundo o coordenador da pesquisa, Miguel Oliveira, isso demonstra maior dificuldade e preocupação dos consumidores com os gastos este ano.
Já para o especialista em finanças Gilberto Braga, o cenário indica que o consumidor está mais endividado e, por isso, evitando certos tipos de gastos. “Não acredito que o brasileiro está mais consciente ou cauteloso a ponto de deixar de comprar para pagar dívidas. O que existe é uma regularização da situação daqueles que estão endividados. Eles estão se adequando as suas atuais necessidades”, pontuou.
Segundo o estudo, houve também uma redução de 33,33% no número de consumidores que pretendem utilizar o 13º salário para compra e reforma de suas residências. Com relação às dívidas, a tendência de 70% dos entrevistados é quitar débitos do cartão de crédito e do cheque especial.
O cartão de crédito, inclusive, ainda é a linha com maior peso na composição das contas em aberto, tendo atingido, em 2011, 39% do total (crescimento de 2,63% sobre 2010) contra 37% do cheque especial (elevação de 5,71% sobre 2010). Referente aos gastos em 2011, 72% dos consumidores pretendem gastar no Natal até R$ 500 contra 67% em 2010.
A pesquisa demonstra ainda um aumento de 2,70% na intenção dos consumidores de pagar os débitos com recursos próprios e uma redução de 9,09% no número de pessoas que deverão utilizar financiamento bancário. De qualquer forma, a maioria dos consumidores (80%) quer usar os cartões de crédito nas compras de Natal este ano.
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